quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Perfil do professor universitário brasileiro

A coluna "UOL Educação" publicou um artigo interessante a respeito dos resultados do Censo da Educação Superior de 2009 e, com base nestes dados, mostrou o perfil dos professores que atuam na rede pública e privada de ensino superior. O texto completo pode ser visto aqui.
O que me chama atenção, porém sem nenhuma surpresa, são os dados comparativos referentes à titulação e regime de dedicação dos professores. Enquanto na rede pública 75% dos professores são doutores ou mestres e 79% trabalham em tempo integral, na rede privada apenas 55,4% tem doutorado ou mestrado (mestrado, na maioria) e apenas 21,6% trabalham em tempo integral.

Eu trabalhei na rede privada de ensino superior durante 6 anos e sei das dificuldades encontradas por professores para conseguirem uma progressão na profissão. Primeiramente, a maioria dos professores tem outro emprego e as aulas acabam sendo um complemento. Daí a famosa pergunta dos alunos: "Professor, o senhor trabalha também ou só dá aula?". Regime de dedicação integral é quase uma utopia.
Não é nada fácil ser um professor de instituição particular. Você nunca sabe se terá emprego no próximo semestre, só ganha pelas horas em sala de aula (e trabalha o dobro preparando aulas e corrigindo provas), ministra várias e diferentes disciplinas e, o pior, muitas vezes é obrigado a esconder sua titulação para não ser demitido na época do "facão". Mesmo assim, é um guerreiro e tenta dar qualidade às suas aulas, muitas vezes menosprezadas pelos alunos. Eu me sinto privilegiado com os alunos que tive, mas não vou negar que alguns demonstravam um comportamento mais próximo de um cliente do que de um estudante. Mas enfim, gosto mais de lembrar dos bons alunos, os batalhadores em busca de crescimento pessoal e profissional.
Fiz meu mestrado nesse período e realmente era uma correria sem fim. O pior foi defender a dissertação e esperar um ano para pedir progressão funcional porque a instituição na qual eu trabalhava estava passando a guilhotina nos mestres e doutores. "Mestre? Eu? Imagina...". Foi triste, porém necessário. É a lei da selva...
Agora que atuo numa instituição pública, posso vivenciar o que sempre soube: mais tempo para preparação e estudo do que de sala de aula. Parece uma equação estranha, mas é o ideal se desejamos educação de qualidade. O trabalho intelectual de um professor reflete muito em suas práticas. Agora, mesmo em pleno doutorado, eu me sinto menos cansado do que na época do mestrado (ainda bem, hehehe), pois tenho tempo para estudar, já que não preciso levar trabalho para casa e percebo uma significativa melhora na qualidade das minhas aulas.
O que quero enfatizar é que os resultados de uma pesquisa como esta apenas retratam uma dura realidade do ensino superior. Entretanto, a qualidade do ensino depende de muitos outros fatores, ou seja, existem professores, por exemplo, que não sabem aproveitar o tempo que tem, enquanto outros se desdobram e "tiram leite da pedra" para provarem que a verdadeira educação vai muito além das estatísticas...

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