sábado, 19 de março de 2011

A escola que temos e a escola que queremos*


Podemos dizer que a escola que temos ainda é a escola que tivemos, ou seja, a escola na qual vivenciamos nossa trajetória enquanto estudantes. Uma escola preocupada com a execução de conteúdos e o cumprimento de planos muitas vezes determinados por aqueles que sequer são conhecedores da realidade escolar. Uma escola preocupada em “preparar” o indivíduo para “a vida lá fora”, considerando principalmente as relações do mundo do trabalho.
A escola que temos ainda está impregnada de práticas acríticas e tecnicistas, aplicando metodologias que visam a seleção e o incentivo à competição. Uma escola que trata seus alunos como atletas numa maratona onde há apenas um lugar para o “vencedor”. Os obstáculos são sempre enormes e preparados especialmente para separar os “bons” dos “fracos”, mantendo a pirâmide social imutável.
Historicamente a escola se constituiu como um espaço de controle, disciplina e reprodução das idéias vigentes na sociedade na qual ela se insere. Mesmo quando se afirma que a escola passa por um processo de transformação e modernização, muitas vezes tal discurso reflete apenas uma propaganda enganosa financiada pelos gestores das políticas públicas em educação, cujas estatísticas bem elaboradas conseguem ludibriar e abafar possíveis clamores resultantes de pontuais momentos de reflexão da sociedade.
Em se tratando de tecnologias, a escola que temos ainda se apresenta aquém de todas as necessidades da atual sociedade da informação. Uma sociedade caracterizada pela velocidade na comunicação, pela troca constante de informações e pela construção do conhecimento, seja ele individual ou coletivo. Uma sociedade na qual as relações sociais são em grande parte permeadas pelas tecnologias. A escola que temos procura inserir tecnologias como se tal ação por si só garantisse a inclusão e a transformação social. Os equipamentos acabam por se constituir em sucata subutilizada. A ubiquidade das tecnologias é ignorada quando a mesma é tratada apenas como um conteúdo pulverizado em outras disciplinas.
A escola que queremos constitui-se num espaço capaz de promover interações que realmente propiciem a transformação em todos os aspectos do indivíduo, principalmente o aspecto social. Acreditamos na escola ideal como aquela efetivamente promotora da transformação, e as TICs se apresentam como instrumentos com considerável potencial de colaboração nesse processo. Mais uma vez ressaltamos que a tecnologia por si só não promove nada. Esta, quando mal utilizada, pode até mesmo contribuir para a perpetuação de ideologias, a repressão e a destruição do pensamento crítico.
A escola que queremos considera as tecnologias como elementos historicamente impregnados na vida do indivíduo e, como tal, fazem parte dos mesmos. Assim, essa escola é capaz que integrar tais ferramentas de modo que as mesmas efetivamente contribuam para a constituição de indivíduos críticos e agentes de sua própria transformação.
Diante de todo este contexto, o nosso papel enquanto pesquisadores é promover a sistematização de conhecimentos capazes de subsidiar as idéias de transformação, de contribuir para o desenvolvimento de tecnologias realmente integradas com a Educação, de propiciar um cenário no qual a escola possa realmente se transformar e assumir um caráter mutante, assim como a sociedade sempre o foi.
Um fato é certo: a escola que temos não é a escola que queremos. Mas será que lutamos pela concretização de tal modelo ideal de escola ou ficamos apenas num discurso vazio e muitas vezes inaudível?
Realmente, se não lutarmos pela escola que queremos, certamente a escola que temos se perpetuará como a escola que tivemos, restando-nos apenas o papel de platéia neste infeliz espetáculo.

*Texto produzido durante uma das minhas aulas no doutorado

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