domingo, 20 de março de 2011

Li e recomendo

Ensaio sobre a cegueira (José Saramago)

Imagine o caos no mundo se este fosse tomado por uma epidemia que deixa todos os seres humanos cegos repentinamente. Imagine-se agora como a única pessoa não contaminada por essa doença, ou seja, a única capaz de ver tudo que acontece à sua volta. Essa é a premissa da obra-prima de Saramago, lançada em 1995 e adaptada em 2008 por Fernando Meireles para o cinema. Eu fui ao cinema e vi o filme (que teve grande parte de suas cenas rodadas em São Paulo) e sempre tive vontade de ler o livro, o que acabo de concretizar.
O filme é ótimo, mas nada como a riqueza de detalhes de um livro para instigar a imaginação, detalhes que muitas vezes nos fazem refletir com muito mais profundidade sobre certos temas. O que eu considero sensacional nessa obra é a estrutura narrativa de Saramago, que consegue contar uma história inteira sem dar nomes às suas personagens, referindo-se apenas às mesmas por suas características mais marcantes (o médico, a mulher do médico, a rapariga dos óculos escuros, etc.). Os diálogos se misturam ao restante do texto, mas, por incrível que pareça, a história é tão absorvente que o leitor não se confunde e distingue perfeitamente as falas do autor das falas das personagens.

Um dia normal na cidade. Os carros parados numa esquina esperam o sinal mudar. A luz verde acende-se, mas um dos carros não se move. Em meio às buzinas enfurecidas e à gente que bate nos vidros, percebe-se o movimento da boca do motorista, formando duas palavras: Estou cego.

Assim tem início essa emblemática obra de Saramago que, ao falar do livro, afirmou:

"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."

Veja o trailer do filme (mas recomendo ler o livro antes de ver a versão para os cinemas):


"Só num mundo de cegos as coisas serão o que verdadeiramente são". José Saramago

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