segunda-feira, 16 de maio de 2011

O humano antecede o artista

Eu tive uma prima que, infelizmente, partiu muito cedo desta vida. Nos idos dos anos 80, em plena "Era Menudo", me lembro dela, então com 11 anos, enlouquecida pelos portoriquenhos. Dentre os garotos daquela formação estava Ricky Martin, tão moleque quanto eu e hoje internacionalmente conhecido.
Bom, todos sabemos a história dele, inclusive as últimas "revelações". Nunca fui um fã incondicional, mas gosto de várias músicas dele, principalmente as que trazem uma batida latina, puxando a salsa, a rumba e até mesmo o samba.
Eu acabo de ler a sua autobiografia "Eu", lançada em 2010. Trata-se de um livro que não pretende ter uma intensa profundidade literária, mas vejo que seu objetivo é o de mostrar que todo artista é, antes de tudo, um ser comum no seu cotidiano, com tantas angústias quanto nós que não atuamos nesse meio profissional. Lendo o livro, passei a admirá-lo não apenas pelo talento, mas pela pessoa sensata, comprometida com questões sociais e muito ligado à sua família. Uma pessoa que saiu de uma profunda depressão ao perceber-se como um ser humano inacabado e com direito a ter problemas. Da entrada no Menudo aos 12 anos aos fenônomenos "Maria" e "Livi'n la vida loca" e depois a um período negro de vazio não-aceitação, mostra como é fácil ir do céu ao inferno em um curto período de tempo, assim como também prova que é possível inverter esse processo buscando forças dentro de si mesmo.

O fato dele ter revelado sua homossexualidade é apenas um ponto em sua vida. Mas, infelizmente, é o fator no qual as pessoas mais se apegam, como se toda a vida de uma pessoa e até mesmo o seu talento se resumisse à sua vida sexual. Talvez fosse verdade, se ele fosse um ator pornô, mas não é o caso.
Ricky Martin mantém um sério trabalho de luta contra o tráfico de crianças por meio de sua fundação (veja mais detalhes). Fez campanhas beneficentes para as vítimas dos tsunamis na Ásia em 2004 e do terremoto do Haiti em 2010, dentre outras ações humanitárias dentro de suas possibilidades financeiras e de influência junto ao meio artístico e político, como a doação de kits para incentivar o ensino de música nas escolas públicas de Porto Rico. Mas como isso não rende piadinhas e nem escândalos, fica adormecido nos arquivos da mídia. Além de "não ter graça", nos faz lembrar que pouco fazemos por uma melhoria do mundo à nossa volta.
Ao contrário de outros artistas, por exemplo, cujos "heróis morreram de overdose", vejo Riky Martin não como um exemplo a ser venerado e seguido, mas alguém que tem uma história de superação e aceitação que, ao menos, merece ser ouvida e respeitada. Devemos lembrar que o humano sempre antecede o artista e que, por essa razão, não tem obrigação alguma de escancarar sua privacidade. É fato que ninguém tem a obrigação de aceitá-lo mas deve, ao menos, respeitá-lo.
O vídeo a seguir mostra um trecho do seu Acústico MTV, um trabalho muito legal e com belíssimas músicas que denota bem esse período de "resgate de si mesmo". Essa música é uma versão de "Via Láctea", do Legião Urbana.
Cuando todo esta perdido, siempre queda una salida...

Nenhum comentário:

Postar um comentário