segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Quem cola gosta da escola?


Hoje resolvi falar de um tema muito recorrente nas salas de professores e rodinhas de alunos: a cola. Não adianta negar: todo mundo já colou ou passou uma colinha “inocente” pelo menos uma vez na vida escolar. Seja aquela fórmula escrita na carteira, nas pernas, nas mãos, sejam as famosas “sanfoninhas” impressas com fonte tamanho 0,5 (e o cabra mesmo assim consegue ler na hora do desespero), o fato é que este mal perdura no sistema escolar e se aperfeiçoa com o advento de novas tecnologias, como os smarphones, por exemplo.
Como professor, eu repudio qualquer tipo de cola, pois elaboro minhas provas considerando o que o aluno deverá saber e não no que ele deveria ter decorado. Como aluno, sempre me revoltei ao ter que decorar fórmulas. Confesso que em várias situações coloquei as famigeradas na carteira. Mas a aplicação das mesmas sempre esteve na “cachola”. Quando prestei vestibular, as fórmulas eram impressas na capa dos cadernos de prova. Cabia a nós candidatos saber aplicá-las nos problemas propostos. E assim fui feliz e entrei pra faculdade.
A cola se constitui num verdadeiro jogo de “gato e rato” entre professor e alunos. É uma triste realidade: o professor passeando os olhos pela sala como uma “sentinela dos infernos” e os alunos esperando o menor dos deslizes para agirem. Os que conseguem não se contentam em apenas transgredir o processo como sentem a necessidade de “cantar vitória” para os colegas depois da prova. O professor, quando “pega o malandro com a boca na botija”, praticamente arranca sua cabeça para exibi-la na sala dos professores como um troféu.
Qual a razão disso tudo?
Acredito na existência de diversos perfis de alunos que colam: o aluno que não quer estudar mesmo, o aluno que não consegue decorar mas sabe que o professor cobrará isso, o aluno que quer protestar contra o sistema avaliativo, o aluno que nem sabe o porquê de estar colando, entre outros. Mas defendo que a cultura da cola deve ser combatida não apenas com o processo punitivo da descoberta, mas também com uma profunda reflexão sobre o nosso sistema avaliativo. Será que realmente avaliamos a aprendizagem dos nossos alunos ou apenas encenamos uma peça na qual os personagens protagonizam um jogo de forças?
Considero o formato de avaliação atual extremamente injusto, somativo, classificatório, punitivo. A avaliação é usada como instrumento de controle, aquilo que garantirá o “comportamento adequado” da turma durante as aulas, quando na verdade deveria ser formativa e processual, permitindo ao aluno uma reflexão sobre sua própria aprendizagem e os caminhos percorridos na construção do seu conhecimento. Mas mesmo assim acredito que o ato de colar não se constitui no melhor instrumento de protesto.
Quem cola está enganando apenas o professor? Não. O maior enganado e trapaceado é ele mesmo, principalmente se considerarmos um contexto de formação profissional. Que tipo de profissional ele será? E o pior de tudo: que tipo de cidadão ele será?

Existem dois grandes culpados nesse processo: a escola, por querer uniformizar os alunos quanto aos seus processos cognitivos; e o aluno, por valorizar a transgressão ao invés de buscar meios de favorecer sua própria aprendizagem. A não discussão do tema leva à formação de um indivíduo que eternamente buscará burlar os processos, como no caso da compra de monografias denunciada na reportagem abaixo. Um indivíduo que prefere pagar por algo pronto ao invés de aprender, de crescer, de evoluir.


Ainda voltarei com esse tema. Ele nunca se esgotará.

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