domingo, 19 de maio de 2013

E o jacaré me fez cientista


Hoje me peguei pensando na minha incipiente trajetória de pesquisador e resolvi relatar brevemente como começou a minha paixão pela pesquisa. Posso dizer que esse sentimento começou há 19 anos, em 1994, quando iniciei meu Ensino Médio no extinto CEFAM. Além de todo o novo mundo que se abria para nós estudantes do Magistério, com disciplinas até então para nós desconhecidas – como Didática, Psicologia, Sociologia da Educação, Estrutura e Funcionamento do Ensino, dentre outras – um desafio em particular nos chamou a atenção: a feira de ciências anualmente organizada pela escola e coordenada pela professora Wanda Faleiros, responsável pelas aulas de Biologia no CEFAM.
A professora Wanda – hoje docente da UEMS – é uma daquelas pessoas que nos passam um entusiasmo incrível para o desenvolvimento das nossas tarefas. Sempre elegantíssima e igualmente simpática, tinha uma visão de ensino focada em projetos e fazia da feira de ciências um diferencial para a construção do conhecimento em Biologia. Assim, diferentemente do então tradicional formato de evento onde os alunos “montavam alguma coisa” e a apresentavam, nós deveríamos propor e desenvolver um projeto de pesquisa, relatando seus resultados.
Dessa maneira, o meu grupo resolveu desenvolver uma pesquisa sobre o jacaré do Pantanal, após várias discussões e dicas da própria professora. Começava aí uma sucessão de acontecimentos que por pouco não me levaram para a Biologia. Tivemos apoio de pesquisadores da Embrapa Pantanal, que nos forneceram informações e nos emprestaram material para a exposição. Vendo o nosso empenho, a professora nos inscreveu numa seletiva que levaria três trabalhos de Corumbá para serem apresentados na Feira Estadual de Ciências, em Campo Grande. Ficamos em primeiro lugar e, com muito esforço da professora, fomos para a capital e também conquistamos a estadual! Foram dias incríveis para nós, onde pudemos, com apenas 15 anos, vivenciar experiências que ficariam para o resto da vida. Infelizmente não tivemos apoio dos governantes para nos apresentarmos em Buenos Aires, na Argentina, num evento para o qual fomos credenciados por termos sido destaque na feira estadual. Penso o quanto isso teria sido ainda mais enriquecedor nas nossas vidas. Mas, enfim...


No ano seguinte novamente participamos da feira estadual, além de um simpósio de Educação Ambiental, ambos em Campo Grande. Foram tantos frutos colhidos com tão poucos recursos e certamente teríamos ido muito mais longe se tivéssemos a estrutura adequada. Não cursei Biologia, parti para a Análise de Sistemas, mas o sentimento investigador já estava entranhado em mim. Ser pesquisador é ter constante postura questionadora e investigativa. E isso será eterno em mim.
Hoje, como professor de um Instituto Federal, eu me vejo no lugar da professora Wanda, incentivando meus alunos a desenvolverem projetos de iniciação científica e me alegrando em ver suas realizações. Nestes quase 3 anos e meio em que já atuei no IFMS, tive o prazer de ver meus pupilos submetendo e apresentando trabalhos em diversos eventos locais e nacionais, além de testemunhar colegas professores brilhando com seus orientandos em diversos outros eventos. É indescritível a sensação de ver esses meninos e meninas com a empolgação que eu também tive na idade deles e isso me faz lutar sempre na busca de recursos para levá-los aos eventos.
Enfim, se hoje sou mestre e um doutorando em educação, isso tudo se deve a um bichinho lindo (sim, eu acho jacaré lindo), esverdeado, rabudo, dentuço e versátil: o jacaré. E devo muito mais à professora Wanda, que plantou e certamente ainda planta a "sementinha científica" nos seus alunos.

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